sábado, 23 de fevereiro de 2013

3 - Lutrícia

  Desdém mais parecia uma cidade fantasma, exceto talvez que cidades fantasmas eram cheias do mesmo em construções, porém aqui, os fantasmas estão nas próprias pessoas.   Mas quem se importa? Enquanto os fantasmas estão nos outros ou não nos assombre, ninguém liga.   É como aquele velho ditado: “Se não pisar no meu calo, não piso no teu.”   Eu não pertenço a Desdém. Desdém pertence a mim. Um dia vou, eu sei, embora daqui, vou estudar o espaço, as estrelas que choram os cometas que sangram e os planetas que sussurram. Tudo isso pertencerá a mim, um dia.   As pessoas de Desdém são más, angustiadas, sofredoras. Mas eu prefiro ver o lado bom das pessoas, de tudo, e de todos.  Que falta de educação a minha, estava me esquecendo.   Sou Lutrícia Sena Caproni, ou apenas, Lu. Tenho dezessete anos, e moro em Desdém, desde sempre - meu bisavô veio da Itália pra cá e, desde então, moramos aqui nesta inglória cidade.   Moro nos arredores de um bosque, se bem que a cidade é envolta do bosque, exceto duas estradas que são a saída e a entrada da cidade. Mas eu moro próximo à escola e a biblioteca, em uma casa de tijolos com detalhes em madeira escura e envernizada.   Desde que meus pais se separaram moro com minha avó, mãe de minha mãe, pois meu pai foi para capital e minha mãe, pra outra capital. Eu preferi conclui os estudos esse ano antes de ir, e meus pais gostaram da idéia.   Um peso a mais em suas vidas agora seria um fardo, talvez, grande demais para se carregar. Minha família, por parte de mãe, tem algumas características muito fortes: somos todos muito brancos, rostos com sardas, cabelos ruivos e olhos muitos verde.   Eu via o reflexo dos olhos de minha família na mata.   Eu era realmente muito só, sempre lendo, ouvindo musica, estudando, jogando videogame, escrevendo, desenhando ou assistindo uma de minhas séries favoritas. Eu sou voluntária da biblioteca municipal – uma das melhores coisas da cidade.   E nessa quarta-feira, sai da escola, almocei e fui direto para biblioteca, amava ficar lá.   Estava indo para a minha sessão favorita, a sala pequena dos livros antigos e empoeirados, mas vi algo estranho na sala. Vi Gabriel, aluno da minha sala, ele senta na terceira fileira, mas nunca nós falamos.   Ele estava conversando com alguém, ouvi algo como “Eu quero que seja diferente, você sabe disso” como se houvesse alguém do outro lado da prateleira com ele, achei que poderia atrapalhar e sai.   Fui então, dar baixa no computador para os livros que foram devolvidos.   Meu dia foi legal, vi uma menina que eu só conhecia de vista sair, vi Gabriel sair, ele estava preocupado, ou angustiado. Acho que eles estavam discutindo, ela estava cobrindo os olhos como quem chorará ao ouvir uma noticia muito ruim.   Meu expediente acabou. Ainda eram 16h00min, então, fui pra casa, pequei minha tela, minhas tintas e meu pincel e fui até o lago, adoro o lago. Ao longe, vi Bianca. Ela era bonita, se fosse homem, namoraria com ela.
  Ela tem um brilho nos olhos que se assemelha ao que um águia tem quando está em seu vôo. Pintei e fui-me embora, ao meu caminho como sempre.
  Já estava escurecendo, eram quase 19, antes de mim, vi Bianca saindo.
  Estava à 200 metros de casa, quando ouvi gritos de socorro.
  Gabriel morava do outro lado da praça, vi-o saindo por seu quintal e pulando as cercas indo para o bosque.
  Estava escuro, e o medo tomava meu corpo, congelando minha mente, a ponto de eu só pensar no pior.
Segui pro bosque, não estava suportando aquele ambiente pesado.
  Com o celular auxiliando como lanterna, corri pelas colinas até adentrar pelas arvores e me deixar guiar pelos cochichos, provavelmente de Gabriel e Bianca. Então a vi no chão sangrando, e com os dois em volta dela.   -Vai ficar tudo bem, eu prometo. No fim todos terminam sozinhos. Ainda não acabou pra você, Raquel, você não está sozinha.   Eu gritei.   – Ela está morta. – Gabriel sussurrou pouco antes de eu me manifestar presente. Ele chorava, dava pena. Ele olhava para Bianca como se fosse ela a culpada, ela apenas o ignorava encostada em uma arvore com o rosto tão molhado quanto ele.  Quando olhei para os braços de Gabriel não contive o grito, estavam apoiados em um corpo, o da garota que saiu antes dele da biblioteca.  – Você...? – tentei perguntar depois de um grito histérico que os abalou.   – Você a matou? – Quando ele ergueu a mão eu tentando me esquivar cai e rolei pelo chão, de forma que folhas secas se prendessem em meu cabelo. – Eu chamei a policia…  – Não! – ele gritou. – não fui eu. – Sua voz pela primeira vez transmitia emoção. – Eu… Eu…  – Você a matou. Você tem que ser preso. Sozinho. No fim todos ficam sozinhos.





Por: Gabriel Lopes

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